AS INSEGURANÇAS E OS MEDOS DO HOMEM

Essa semana eu me deparei com uma situação, no mínimo, comovente. ( Ou preocupante?? )

Pelo telefone,o cliente me parecia muito certo do serviço.

Ele me fez algumas perguntas pertinentes ao atendimento e à medida do possível, procurei respondê-las.

O cliente me falou que aquilo tudo era muito novo pra ele.

Que estava contratando um serviço para "se descobrir".

Ele queria saber o que sentiria quando fosse tocado por outro homem.

Acho que a massagem tantrica tem sim essa abertura de pensamento, essa descoberta de si, do próprio corpo, mas colocar a descoberta da sua sexualidade nas mãos de um massoterapeuta é muita responsabilidade.

O fato é que me deparei com um homem cheio de dúvidas e bloqueios.

Nessa hora, abre-se novamente aquele leque sobre a sexualidade masculina: as fugas, os medos, os fetiches, os anseios, os bloqueios, as vontades, as ansiedades...

Ao telefone, esse cliente me falou que tinha 50 anos.

Casado, pai de família, esposa dedicada.

Ouvi um relato de alguém aprisionado no próprio corpo.

Foram tantos detalhes em desabafos que não vou ter condições de postar nem a metade.Primeiro por respeito ao que me foi confidenciado, e segundo, pela nossa conversa que foi longa demais.

Quando a porta se abriu, nem de longe ele parecia ter 50 anos. Aparentava 40, no máximo.

Ao entrar, ele foi logo falando o que estava fazendo aqui.

Disse que não tinha muita experiência, mas queria se entender.

Palavras dele:

"Faz muito tempo que eu procurava uma massagem como essa que vc divulga. Eu quase falo pra minha esposa que vinha aqui. Minha relação com ela não está bem. Comigo, as coisas funcionam de uma forma muito clara. A doença dela nos afastou e ela tem consciência disso. Depois pensei em não contar. Ela iría passar isso na minha cara e as coisas só poderiam piorar. Mas enfim, eu quero me descobrir. Vc disse que não teria SEXO e eu estou preparado pra não exigir isso de vc, mas o que eu queria mesmo era transar. Matar essa minha vontade  e ver se é disso que eu gosto. Já vivi uns amores platônicos, já escrevi  uns cartões, já dei pistas pra um amigo muito próximo. Ele sacava tudo, alimentava, mas não correspondia muito. Não tinha iniciativa. Vivi essa vontade por ele durante 5 anos e faz 12 anos que não o vejo. Desse tempo pra cá eu carrego mil dúvidas sobre mim. Eu sinto que o tempo está passando e muitas coisas eu não me permiti viver. Sou um homem de 50 anos com cabeça de 14 anos. Não tenho uma opção sexual definida por pura falta de prática, coragem, oportunidade. Vontade eu tenho muita. Quando vejo o tempo passar, percebo que daqui a pouco não vou mais despertar nada em ninguém e as coisas só vão piorar, porque essa descoberta vai ficar cada vez mais distante. Hoje, vejo meninos 17, 18 anos, viverem coisas que eu nunca vivi e nem sei se eu vou viver.São muitas perguntas. Na verdade, eu queria mesmo saber se eu sou gay ou se é só uma curiosidade que eu tenho guardada e que depois vai passar. Eu tenho esse jeito desajeitado, esquisito e isso só piora a aproximação das pessoas. Como eu te disse, hoje eu queria sexo!! Mas tudo bem, eu sei que você não vai me dar isso. Mas eu quero sim, fazer essa massagem, pra ver se eu sinto alguma coisa."

Depois disso, senti um peso nas costas.

O caso do cliente envolvia muito mais do que uma massagem pra relaxar.

Ela quase pediu por uma libertação.

Esposa, filhos, idade avançada, sexualidade mal resolvida, dúvidas, o corpo desejando outro homem e eu ali, ouvindo tudo, sem saber como ajudar.

Pela cara, era notório que ele realmente era totalmente inexperiente.

Iniciamos a massagem tântrica.

O desejo dele de conhecer esse universo masculino era tanto, que ele não parava de fazer perguntas.

Perguntas sobre prazer, idade dos clientes, como funcionavam as outras massagens, como eles reagem, qual o perfil.

Nos pés e nas pernas, tudo ok!

Mas quando toquei a região do bumbum, o corpo dele se contraiu inteiro. Ele pedrou.

Ou seja, ele não aceitava o toque. Não tinha o hábito de ser tocado dessa forma.

A massagem ficou praticamente impossível, pois ele não relaxava.

Me intrigava o fato dele querer sexo e não aceitar ser tocado.

Ele queria tudo, mas não se aceitava.

Eu vi ali uma mistura de carência e tristeza, vontade e rejeição, desejo e dúvida, tesão e não aceitação.

Num determinado momento, ele começou a me abraçar.

Tive que frear e voltar a massagem porque eu estava ali pra oferecer um serviço.

Não podia abraçar esse cliente, suprir essa carência de afeto e deixá-lo ainda mais confuso.

A vontade dele era de sexo, até que pediu uma camisinha.

NÃO!!!

E os motivos são claros. 

Não faço sexo com clientes; este cliente precisava de ajuda psicológica e não de sexo casual.

Era muita responsabilidade ou irresponsabilidade minha dar mais um passo do que o que combinamos.

E mais... ele não me atraía em nada!!

O tempo todo ele pediu sexo, camisinha, quis me beijar, me abraçar, falava coisas.

A massagem ficou pelo meio do caminho e ele nem quis concluir.

Tive que segurar a onda, parar e conversar! A coisa tinha ficado séria a ponto dele fazer tudo diferente do que se havia combinado.

Lembro que sugeri que ele procurasse um psicólogo e ele foi TOTALMENTE contra.

Disse que profissionais da psicologia não tinham como ajuda-lo.

Depois da conversa, ele ainda me acompanhou até o mercantil.

Enquanto eu colocava as coisas no meu carrinho, ele me pedia desculpas.

"Desculpas mais uma vez por esse meu jeito esquisito. Talvez da próxima vez, eu consiga ser melhor."

Nossa!!! Além de tudo, ele se cobrava por uma postura, por um comportamento.

Fiquei mal. Confesso!

Chegamos em 2013 e ainda existem pessoas pra quem a vida não deu a oportunidade de se encontrar.

Não sei de que forma posso ajuda-lo. Juro que não sei.

Histórias reais de uma pessoa como essa, só aumenta meu respeito pela individualidade humana.

A sorte desse cliente é que apesar de toda essa clausura sexual, ele não surtou e não se tornou um louco homofóbico, como muitos que a gente vê por aí.

E vc??

Quando vai fazer sua massagem comigo???

Ricardo